
Fábrica despertou interesse de três empresas, mas a Caoa foi a única a assumir negociação. Foto: Arquivo
A Ford vai encerrar no próximo dia 31 a produção do hatch New Fiesta na fábrica de São Bernardo, o que acarretará na demissão de 750 dos 2,8 mil trabalhadores da unidade, que teve seu fechamento anunciado em fevereiro. A informação foi comunicada pelo vice-presidente de Comunicação e Relações Governamentais da Ford América do Sul, Rogélio Golfarb, ao prefeito Orlando Morando (PSDB), que ficou indignado com a decisão da empresa.
Além do Fiesta, a unidade produz os caminhões das linhas Cargo e Série F, que continuarão a ser fabricados até novembro. Desde fevereiro, Morando e o governador João Doria (PSDB) têm buscado um comprador para a planta. Três empresas se interessaram pela fábrica, mas a Caoa foi a única a assumir publicamente o início das negociações. Morando espera anunciar o novo dono em agosto, mês de aniversário da cidade.
Em nota, o prefeito afirmou que a Ford “despreza o município” e que a conduta da montadora foi lamentável, uma vez que não considera as negociações com o futuro comprador da planta. “Lamento que a atual direção da empresa tenha (adotado) essa prática com a cidade. Vou seguir na busca por uma solução pela manutenção dos empregos e mitigação dos efeitos”, disse.
A prefeitura lembra que, durante audiência realizada no Ministério Público do Trabalho (MPT), em março, solicitou à Ford a apresentação de um plano de desmobilização, com o impacto na cidade do fechamento da planta, mas não foi atendida.
“O município desconhece a condição desses trabalhadores, se os filhos deles vão migrar para escolas públicas, se haverá impacto na saúde pública, uma vez que vão perder seus convênios médicos particulares, além do efeito no transporte coletivo”, disse Morando.
A nota diz ainda que, na próxima segunda-feira, a prefeitura vai “buscar medidas judiciais cabíveis contra os impactos que (o fechamento) possam causar ao município”.
A Ford anunciou em fevereiro que fecharia a fábrica, após decisão da matriz nos Estados Unidos, que não viu oportunidade de lucratividade na operação e decidiu abandonar o negócio de caminhões no Brasil. A produção de automóveis será concentrada na fábrica de Camaçari (BA).
Os trabalhadores têm estabilidade no emprego até novembro. Em maio, os funcionários aprovaram por unanimidade proposta negociada entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a empresa para o encerramento dos contratos de trabalho e a compensação pelo fechamento da unidade. As indenizações – que podem variar entre 0,75 e dois salários por ano trabalhado – dependeriam da adesão do funcionário ao que a empresa chamou na época de Plano de Demissão Incentivada (PDI).
O metalúrgico que participar do processo de seleção e for contratado pelo grupo que vier a adquirir a fábrica receberá 1,5 salário por ano trabalhado. Aquele que não for contratado ou decidir sair sem passar pela seleção receberá dois. O pacote será pago paralelamente aos valores previstos em lei para rescisão do contrato.
INCENTIVAUTO
Em março, Doria lançou programa de incentivo fiscal à indústria paulista de veículos, que oferece redução no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de até 25% para montadoras que gerarem no mínimo 400 postos de trabalho e investirem ao menos R$ 1 bilhão.
Chamado IncentivAuto, o programa foi lançado após um mês e meio de negociações com a GM – que, em janeiro, ameaçou deixar de produzir no Brasil caso não voltasse a ter lucro neste ano. Doria, porém, sinalizou que o provável comprador da fábrica de São Bernardo negocia o uso do programa.